terça-feira, 20 de abril de 2010

Marcelle


Eu queria amiúde escrever estas minhas tantas notas tempestuosas e tortas,Marcelle! Como um desabafo agudo de dias, dissecá-las nos finos capítulos raros que trago no bolso.Talvez por você,talvez não!
O que acontece é que na minha versão tardia,todas as minhas saídas ricas ganharão espaços pela sala fria. Sabe aquela coisa de visitar outras veredas? De deixar o parafraseamento de cidades invadir-me visões?Mais não é qualquer história febril que cala e cansa tudo,assim eu nunca quereria e sim;permitir que este meu ser sorteado de sombras; seja de alguma forma mais feliz por mais tempo aqui,em cada prazer que você me entrega.
Mais letras ou menos letras neste momento não me faria diferença alguma!Porque eu janto tua suavidade de alma!Eu me tomo assim por entrelinhas,Marcelle.Percebendo os quereres clássicos da vida rompante no andar.Desabafando os mil discernimentos neste diário de mão!São rascunhos e rascunhos de ideias que logo mais tarde abandonarei na folha branca.E por tantas vezes eu tive raiva de você, por tantas vezes arrisquei erros e paguei;queria riscar de antemão todos os meus protestos na pena reta.Sem esperar muito ou realizar paixões,por quê?Às vezes nem mesmo eu sei!Teus pés rolam mais alto pra isso!!
Reinando íntimo e mal pintado por entre os atos silenciosos; eu me vocifero homem pelos quatros cantos dos ventos negociantes.E que se siga este algo continuado por zéfiros, porque em algum lugar de regras eu terei meu fim!!
E se risca daqui,acrescenta aquele verbo preconceituoso mais um pouquinho acolá.Coisas já tão sabidas e que não me atribuiria mais nada pros meus limites, a esperança destes resquícios virarem ideias fica sempre pra algo mais distante...E você Marcelle, nem parece ligar muito pro que eu falo...Nem cogitava o mundo pra isso,só eu me preocupava!!Ah,Marcelle e você girava e girava fugidia em seu território de pernas,e como girava linda!E se eu dissesse que você girava assim sorumbática,como um compasso perfeito transcrevendo círculos lúdicos,sem dar tréguas latentes aos músculos,sem definir suas veias latejantes no melhor salto contido!
Ou aquela melhor conversa admirável que a música habita, enquanto sentencia os pés na sorte de seus passos.Ah,Marcelle!São duas enormes coxas nacaradas, brigando todo seu espaço de dança na minha sala repleta de quadros.
E que vai se apurando e crescendo e resistindo:até explodir na mandatária danação inconsequente de minha cabeça.E aí então se percorrerá o carma submisso de meus olhos;entre estes vândalos sonhos e os apertados fôlegos que lhe apresento maior,minha mulher!Varrendo todos estes ricos espasmos confidenciados no mundo provisório que criei.No que melhor o gole pausado da cerveja, oferta!
Marcelle agora me caminha sonhos fregueses,repete burburinhos indigentes que ganha controle e provoca ouvidos.O tronco se corta solitário pelas cadeiras azuis,galgando uma fina forma de bailarina monóloga,pêndulo indagativo de todas as minhas queixas.
Você tem um soprar baixo, uma melodia curta e atravessante lhe morando no céu da boca pequena.E tudo isto é levado para a economia de questões!Para cada letra soletrada tua Marcelle,um abraço de dúvidas pra minha estrada remoída.
Alardeia estranhas canções tristes, como sereias telepáticas que trancam destinos de homens pelos mares.E você me lembra vagamente Louise Brooks,a musa legendária de tantos homens da Paramount.Você vai partir sem pena vários corações na tela do cinema,Marcelle; com sua doçura de: forças,cabelos,e margens e margens de beijos que assina o canto do espírito.
Marcelle não me chegue tão escondida com estas pernas,não me chegue!Uma delas me tranca satisfação!E ela deita o peito do pé assim sobre o meu peito,pra deixar-me sem jeito e memórias.
"Dancing cheek to cheek"me oferece o manto da noite e o vendaval de discursos que lhe presentearei mais tarde,e você já sabe disso.
Depois deita assim sobre o meu colo de liberdades e me envolve fervorosa com seu echarpe em tricot rosa.Meteórica,porventura sem lembranças no fruto de mundo,destinando perfumes na sua soberania de ser mulher.
Marcelle com suas pernas de compasso me cobra situações,raízes,me cobra meus amores mais intolerantes e que cega,me participa dores e delícias desta vontade candente.
Marcelle vai me carregar tão bonita pro quarto, mais tarde;tão carinhosa com minhas bebedices e vai teimar homenagens minhas até manhã!Até que o café se ponha no bar!

2 comentários:

Tati disse...

Não é qualquer rascunho que a gente compartilha. Não é qualquer rascunho que a gente admira. E a partir de hoje,você é bem mais do que poderia ser. Uma pessoa comum não escolhe o cenário ideal para um encontro que se anuncia há anos. Outros tantos encontros tivemos, é bem verdade. Já assistimos juntos um musical entre a ponte [ainda que fictícia] Rio-São Paulo. Já te vi chorando ao ouvir Travis. Já compartilhamos tanta coisa. Mas hoje, bem, hoje foi ainda mais especial. Hoje compartilhamos tudo de novo ao lado dos nossos mestres, das nossas inspirações e resta-me um muito obrigado por ter pensado em tudo.

E a vida deveria ser sempre assim: cheia de rascunhos importantes.

Beijos.

Tati disse...

Bem, quando eu vim aqui dias atrás, o "Marcelle" era ainda um rascunho.
Agora, já consigo visualizar o ritmo, as cores, as pausas todas. Você é mestre nisso. Escreve para quem quer ver. E acho que depois da nossa conversa de terça-feira, fica ainda mais claro pra mim.

Enquanto eu me aventuro numa literatura de referências técnicas, tentando dar sentimento e pulsações, você entrega cor, ritmo, leituras a cenas cotidianas.

Eu já disse isso várias vezes, mas vale repetir: eu vejo os seus contos passar como se fossem cenas num telão. E isso é bom demais!