quarta-feira, 13 de maio de 2009

A casa

Minhas retinas frias e velhas perseguiam... Todos os traços finos das paredes alvíssimas do ambiente pela última vez;e como que em um reflexo agudo,transportados por ventos dúbios ou falhos,parecia que eu escutava o velho casebre dizer pelos ventos,com voz de barítono alto;que eu ficasse mais um dia.Mas havia de partir,sim havia de partir...Havia de preencher vida e aventuras em outros lugares,levar valores em outros sonhares...Havia querer em outros mundos,e o punho teimava exasperante,inerte,em girar duas voltas na chave...
Eu compreendia o fantasma das risadas das mulheres ainda nos corredores,despidas,sonhadoras,visionárias,com suas cores nacaradas de sol rasgante.
Pulavam brincantes pelos quartos e varanda,como ninfas no campo.Havia o plantio de sexo em horas de suor e gemidos fartos, confortando o resquício e base da pele.Eu ainda poderia perceber...Pelos corpos e nádegas grandes sendo apalpadas,que o estímulo maior do meu ser se reconhecia...Enquanto que o membro enviava estocadas fortes como um pilão,e o rabo-de-olho delas serenizava àquele prazer preciso.Nos corredores reinavam cheiros de lúpulo e vagina,permitindo que os braços de tijolos me abraçassem o ficar.Era de uma tristeza tão forte ir...Tantas conversas bobas nas madrugadas,risos descaracterizados,tantas cervejas regadas...Tanta nicotina varrida na varanda sob a rede,entre peles,mesclado em verdades temporárias,e aquele pequeno casebre sendo cúmplice de todas as verdades ínfimas,tudo sabia...Fui com um certo amargor involuntário,com uma voz ao fundo me chamando pra que eu entrasse logo no carro,certa ligeireza áspera na despedida.E as pernas agora atravessavam o largo mato verde que se comprimia até as canelas,até a saída...Desviando-me dos cipós seivosos que furtavam o andar...Lá fora eu via os enfeites de madeira entalhados e envernizados da porta e janelas;a tinta branca já descascada e as telhas com musgo ,pareciam corresponder com um estranho acenar,uma reposta antiga de adeus.Bastava agora apenas recordar,nada mais que isso...Quando então meu corpo se projetava por estradas longínquas e escuras,investigando memórias frias na fina luz dos faróis;carregando meu espírito por cada centímetro do carnaval findo...Sentindo uma carga ampla de felicidades nos lábios...