domingo, 8 de fevereiro de 2009

Pré-carnaval

Convivíamos no pré-carnaval,ela com seu Bacardi carta branca,e eu com minha velha Brahma.
Ela fumava Gudan garan e eu permanecia no filtro branco.Entre fumaças estranhas e líquidos diferenciados,o sabor de nós valia mais alto.
Ela me mostrava o seu grande anjo tatuado nas costas,um símbolo Harley Davidson que amava.
Eu ainda ficava naquele medo gritante de agulha.A marchinha ia passando e os passos iam se fazendo,mistura de foliões e uma Kombi velha antiga.Eu vivia o meu papel de Eduardo e Mônica pós modernista.
Ela contava coisas da Espanha,Dali e Père-Lachaise,e eu mal tinha dinheiro pra sair do país.
Ela queria casar e eu detestava Coca-Cola.
Matamos o resto do filtro branco.A banda ainda se permitia e nossos pés iam seguindo...Me pediu um beijo e eu investi dez...Depois me ofereceu o telefone,mas eu insisti num vinho em casa,e nós nos entendíamos bem;melhor que os travesseiros após o sono...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Impossível remédio

Marcos vive com suas interrogações ruidosas e tremuras chatas no bar, o cheiro que segue no ambiente é uma mistura de vômito e ovos coloridos.Combina seu tempero de: tabaco,lêvedo e cocaína;como se isto despertasse a versão mais enfeitada de suas alegrias.Já não sente cheiro de nada,nem de seus pedaços médios correrem como detergente pelo azulejo.Vai se odiando e inchando,varrendo a demência do corpo autocometido, no balcão azul.Não toleraria nunca mais romances e nem seus tímidos papéis de cinema,que vez ou outra apagava a fome doentia.Diante de seus pés mortos ou duvidosos,a impressão que Marcos tinha,era que seus degraus de diminuto cidadão,chegavam até à altura da maçaneta, mas ali não havia nenhuma espécie de saída pros sentidos.
As putas logo lhe cercavam como fantasmas barulhentos,tempestade de albatrozes formando uma ciranda carnal sobre sua cadeira,dança confusa que atacava seu tesão,gratidão de olhares que preocupava ilusões.Enlaçavam vozes armadas e faiscantes no ouvido,um rebolar sensual em seus índigos blues minúsculos.
Tocavam com mãos cheirosas nas barbas incomodantes,depósito de sexos descarados e libertinos,que presumiam as vontades miúdas,que se seguiam em gargalhadas repetidas, passeando a mente que se perdia...Girando tudo,sua libido repentina,girando percentagens de vaginas que querem seu valor.Uma,duas e três voltas elas fazem,sem embaraços...Elas são tão agressivas,e Marcos gira com elas,elas giram com Marcos,a cadeira gira com ambos.
Ele espera exclamações de gemidos,dinheiro atravessado,sarjeta na manhã do dia seguinte.Se perde em horas pelos decotes,a ciranda quente lhe absorvendo todo o apetite de ações.
Elas vão até um limite de chão,e voltam mais fortes como procissão,lhe abraçando músculos e beijos insistentes,um círculo incansavelmente flutuante,são mulheres mal conhecidas,dadas pra vida,presenteando melodias tardias sob seu olhar ponderado.
É freguês de vícios,acreditado e incrédulo dos gêneros humanos,quer apenas a fenda vertical que protesta o pau,quer uísque para discutir a poesia não estando.São vitrinas de academia férteis,de silicones saltados,de pinturas significadas ou nada significadas,rodeando seu coração contabilizado...Quantas notas fartará calcinhas pela sua felicidade cassada,quantas carreiras irá filosofar seu sorriso imbecil.
E lhe pinta na sombra das retinas:pernas,bundas e bucetas...Sutil suficiência de cena.
Vai querer meter mesmo estranho,mesmo curioso por recepções e motéis,Marcos vai querer meter com força,sem diálogos ou trabalho,sobrevivente da palavra(fuder)...
Não pisca olhos,é intruso de sua nojentice,vai querer gozar sem texturas,sem nada de lábios,nada de resistência,vai espirrar sua porra por caras,beber sua graça nas pequenas ausências...
E fazer as putas beberem de seu esperma como prêmio.Depois recolherá discos e tocará um tango pra esconder seus mistérios,ele já sabe que é amigo do rei...