segunda-feira, 5 de maio de 2008

O novo começo de andanças...

(Dedicado a Tati,Mary West e Mariana pelos carinhos depositados.O trio "MA-MA-TA"(risos)sem as caracterizações de Brasília aí exercitados).E Lya luft,mulher de extrema força feminina que admiro.Segue um trecho de seus dizeres que amo:
"Não existe isso de homem escrever com vigor e mulher escrever com fragilidade. Puta que pariu, não é assim. Isso não existe. É um erro pensar assim. Eu sou uma mulher. Faço tudo de mulher, como mulher. Mas não sou uma mulher que necessita de ajuda de um homem. Não necessito de proteção de homem nenhum. Essas mulheres frageizinhas, que fazem esse gênero, querem mesmo é explorar seus maridos. Isso entra também na questão literária. Não existe isso de homens com escrita vigorosa, enquanto as mulheres se perdem na doçura. Eu fico puta da vida com isso. Eu quero escrever com o vigor de uma mulher. Não me interessa escrever como homem."
Da janela se via uma mistura de céu borrado-cinza-desnutrido,cortando-se fora pela clandestinidade das árvores que acolhiam.
As estrelas chispantes e calmas invadiam o quarto escuro de Saulo.Chegava o final de ano da oitava série no colégio Mackenzie e uma festa era prometida na sua casa.Na sombra assistida da tv colorida;dois corpos exibidos sem casca,se aproximavam num batalhão de vergonha e adrenalina constante pelos cigarros.O ano que se passava era 1986 e ele escutava claramente o ritmo de Billy Idol presente no salão abaixo:"Oh, oh, oh dancing with myself Oh, oh, oh dancing with myself If I had a chance, I'd ask one to dance If I had a chance, I'd ask one to dance ..."
Os corpos se despencavam em: agitação,dança, e suor na rodinha reconhecida de amigos.Risadas catapultadas de humor e cerveja seguravam a essência doméstica da jovialidade nos pés.Márcio e Marcos eram responsáveis pelas batidas de maracujá que nunca deixavam a cozinha.Os corpos ou copos eram servidos por ali mesmo, o melhor canto para azaração da casa.Xampú descobria suas qualidades de DJ no toca-discos dos pais de Saulo,e ameaçava tocar Joplin para o delírio enviesado dos bêbados nos sofás que aplaudiam.
Os pais de Saulo eram empresários que mexiam com negócios em Brasília, sucumbindo projetos e trajetos intermitentes, pelos blocos da Asa Sul.
Os beijos mais sinceros se cumprimentavam como analgésicos para o nervosismo,para a lista séria de argumentações de Bárbara,do porquê daquilo ser tão gostoso como vinho no inverno.Saulo ia percebendo seu coração se latejar dominante com a novidade,reunindo risos constrangidos;espera de mais um toque lhe transformar a pele.Sentiam-se entusiasmados e provocantes no conforto dos olhos, que ora um e outro,bobos pela paixão da conquista sabiam bem representar.
Já haviam planejado tudo:dia,local,hora,festa,saída dos pais,convite de amigos,bebidas,som,bagunça e vivência de perigos.
Saulo deslizava os lábios pelas pernas de Bárbara,que precavida recusava um pouco,e mais tarde deixava ver sua penugem,um adocicado detalhe do sexo que ele amava explicitamente.Xampú rolava um Dan Hartman no capricho(I can dream about you)-bem alto:"I can dream about you, i'm gonna press my lips against you and, hold you tight to me. I can dream about you. You know you got me spellbound what else can it be Moving sidewalks. I don't see under my feet Climbing up from the pain in my heart 'cause it's you that I need...." Assobios rondavam perto do DJ,um grito perfomático de quem gostou na escada...Alguns giros ensaiados tentando imitar o quarteto americano negro...Saulo tinha agora a calcinha nas mãos,e todas as sensibilidades nos dedos.E rompia enfim com seu vínculos de virgindade que lhe perseguiu por uma década.Os dois se colavam em perfumes diferenciados,deixando o ardido do êxtase vir como notícia boa.Casais descobertos procuravam mãos e quadris para acompanhar a letra da música.Nada de preocupações,nada de ser adulto.As férias de fim de ano logo se recolheriam rápido e aí viria: vestibular,carreira,emprego...tantas coisas pra se pensar...Mas ali o espaço era infinito e a música era calma,não tinha que se pensar em nada disso,apenas aproveitar a atmosfera de contentamentos pelo aparelho que tocava.E as bebidas que os gêmeos ofertavam.Saulo seguia obediente,com certos cuidados que Bárbara pedia,pronunciando conselhos e explicações na umidade de andanças na cama.Saulo se lembra a primeira vez que viu Bárbara,ela jogava handball no ginásio do colégio e ficou encantado por sua beleza,pelo seu sorriso,pela cara que fazia na defesa estranha do gol.Pela mordida no lábio inferior toda vez que a bolava entrava.Agora Saulo entrava no paraíso,cercado de passarinhos tristes e ele sabe como é o canto dos passarinhos tristes.Se deita ao lado e percebe a responsabilidade comovida pelo orgasmo.Agora entende os poemas e os fortes descasos dos poetas que choram.Agora acoberta outra família calma no peito,estranha no começo;mas bem aceitável ao coração.A escola começará de novo,e logo se enfrentará novas notas,novos amigos e professores.Cantará Química do Legião, e fumará escondido e desesperado pelos corredores da escola, sem que os monitores o ameacem pegá-lo.E quanto a Bárbara!Ah! Você Bárbara...Você é tão bárbara...