quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Balcão de palavras novas


O céu carrega um plúmbeo espaço de chuvas,uma cortina de aço se desprendendo por detrás dos prédios medianos,e que desenha na fina camada do vidro,gotículas fragmentadas morrendo suas composturas no frio retângulo.Tudo é cômodo nesse horário,e as paredes são sitiadas de saudades justificáveis,daquilo que eu nunca quis apreciar.

Eu tomo pílulas pra dormir,num exercício queixoso e corriqueiro de ausentar minha lição de sofrimentos, e copiosos poemas imemoriais. Parece que estes, se transformam numa primitiva novela de escândalos e sexo multiplicado.

Mas nada de mim dorme,nada mesmo.Flutua sim; em desnecessidades de alegria,desligando minha pobre pele comum na objetividade das amarguras.Não existe beleza adivinhada e nem profundidade de corações.

Existe apenas três cigarros desistidos no cinzeiro,e uma maçã pela metade, resistindo a próxima mordida do frequentador.
Meu instituto nacional do amor não liquida seus honoráveis volumecos.Fica por aí excursionando sensibilidades,uma procura por vezes inútil,correndo saudosas leituras de beijos e lugares a que pertenci.

Ela vem como uma serenidade quase econômica, tentando se espalhar como notícia curiosa,inventiva,inversamente proporcional as melodias de meu viver.Fazendo-me tropeçar sobrivente por paixões semanais,rendendo-me batalha de gozos vendidos e amassados na cama.

Os jornais não contam nada de novo,assinala mais propostas de omissão do que dicção, nos seus satélites de informações vazios.

Francamente não saboreio os anos velhos,mas eles se cavam e se abrem desaparecidos e descobertos, e nos golpeiam;com um azedume de ilusão e mistérios que; a mente procura surpreender em manhãs distantes como essa.

Não tem nada de notações ou confissões,um passatempo de conto que se esvaziará mais tarde como as nuvens navegantes.

Eu quero apenas dormir e não me decidir por nada,a diplomacia permissiva que espere minhas oito horas negociadas.

Tento uma visão gratuita e uníssona,madura nesta compra continuada da carne ser feliz,mas eu não assisti nenhuma aula,e meus estudos morrem comigo,bem aqui dentro,infinitos e sem respostas.Um balcão ordinário de palavras novas,em que a boca profere poucas letras vergonhosas, na bonita sustentação da chuva...

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Compreensão


O copo voou na direção do quadro vermelho da sala,adiantando milhões de pedaços de vidro sobre o tapete.
-Mentira,você nunca estaria apaixonado por mim,seu grande mentiroso!-Assim ela se fez de rogada, e protestou veemente contra todos os meus sentidos,acusando o dedo em riste e, passeando os dedos finos sobre o quadro atingido, como resultado de estatística.
Ela aposentava decerto,com flagrada violência; toda aquela minha gentileza sábia dos dizeres.Nem pude alegar testemunhas,ou guardar meu último remédio jurídico como recurso.Sua caneta burocrática da fúria,sentenciou-me no cumprimento da pena ao limbo.
Aliás;eu nunca entendi destas estratégias femininas,estas doces implicações feminis e vis,que quando não eram condescendentes pra uma grosseria bruta,aniquilava todas as minhas ofertas de amor.
-Você tem outras ouviu,outras...!!-E continuava a dardejar-me com seus olhinhos miúdos e confusos,censurando-me o ninho de idéias.-Bando de sirigaitas pintadas,isso é que elas são!Sou mulher direita,sisuda na vida,não admito fazer parte deste barco.Ah,apaixonado!Sei muito bem o teu apaixonado meu querido!
Deixei as mãos nos bolsos,escorado ao mundéu estrangulado de meus vocábulos,retraindo minhas letras que se permitiram a ficar cada vez mais inconsoladas,todas morando nas vitrines das expectativas.
Andou metros na minha direção, com seus quadríceps morenos e saltados à mostra.Socou-me bem forte o peito,três vezes repetidamente,sem que eu pudesse dar nenhuma base de resistência;pra mais tarde derramar lágrimas no meu ombro, e cobrar de mim uma vida diferente.
E naquela mistura louca de:raiva,desabafo,sensualidade implícita e perdões inacabados,confrontamos os perfumes dos corpos e desempatamos agonia de êxtases nos lábios encarnados e queridos.Um alvoroço profundo de mordidas e cego romance, que sorriria cada vez mais faminto pra cama.Que pedia sua verdade de travesseiros e lençol molhado,na tua endurecida voz que agora anunciava gemidos rápidos.
O entender não era necessário,o estar sim...E na longa crescida do sexo,entre estar e não estar,o orgasmo rasgou cheiro de ambos no quarto.
Já era manhã,e o sol chispava seus primeiros raios pela fresta da janela velha,eu apenas observava ela dormir...Com uma querença ilimitada,um carinho infantil a se perguntar sempre,um anjo se acomodando nos sonhos e nos meus embaraços...
Quando acordasse,recomeçaria novamente com todos os seus discursos...

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Inteiro no soneto


Meu quarto é um cemitério de folhas lápide...Ao chão se recolhem estes milhares de picotadinhos brancos,que mais parecem confetes de carnaval passado.

Olho pra parede,e na altura do mapa em relevo amarelado,prevejo todos aqueles pontos pretos de cidades, cidades que enterro os meus sonhos,e que ainda hei de seguir por lá.

No espelho eu percebo um rosto órfão,a pele já foi morta em outros verões cegos e apagados.

O que me narra melhor conhecido agora,é esta lâmina que se escorrega nas paredes das maçãs,indo e vindo em regiões de pêlos,no corte duro que desenha um vermelho, pras futuras comunicações emergenciais.

O meu silêncio é um tempo diferente,e nem o relógio sabe captar minhas letras separadas,ele está ali parado,revoltado,sem montar os seus ponteiros como tarefa.Mas no entanto;respeito sua presença de dias ao meu lado.

A vida é tão engraçada com sua pré-história,quando crianças sonhamos em ser adultos,e quando adultos,nos cabe uma alvenaria de sonhos pra infância.

Nunca sabemos ser quem queremos ser,nunca acertamos as contas em dias certos pra pagar.Seria bem mais fácil eu esquecer isso tudo,embarcar sem futuro,em algum daqueles pontos pretos que sempre me esperaram como espectros isolados...Mas eu não vou,eu sou um José,e duro neste ponto de terra não opero nenhuma reclamação.

O lápis não costura nenhuma letra feia na minha infância,nenhuma.Não costura uma palavra no espelho,este que me implora qualquer tipo de roupa como imagem,a andarilha carne que viajou.

Lembro da minha professora de jardim,tão bem vestida,com um laço azul de seda no pescoço;e seus cuidados tão especiais e coloridos,em que pegava forte nossas mãozinhas,e saía a deslizar linhas redondas que logo montavam rumores de soneto.

Ou quando passava horas no egoísmo do pente, antes de ir pra escola,entre dez ou doze passadas pelos fios,fartura de madeixas que hoje me faz seca.

Nosso testamento de maturidade,nem sempre reconhece aquela beleza feita,transferindo outras salas de histórias e vírgulas,outro caminhar razoável,pra encaixar esta nossa tamanha perda.

Hoje o espelho toma o meu lápis curto, e escreve tudo errado,só pra me irritar,só pra me aborrecer completamente,porque já não me conta uma só vitória-pedaço,eu que ainda tenho tantos pontos pretos esparsos,por conhecer...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Amnésia


Eu não sinto mais notícias de meu mundo hoje.Abandonei minhas propriedades literárias,na pensínsula esquecida de Gibraltar.E vendi meus municípios voluntariados de idéias, pra alguma autoridade corrupta,positivamente bruta à se corromper por libras esterlinas.
Na janela do meu quarto, o sol conversa com seus registros chispantes nos meus olhos,ele ainda não entendeu que eu me vendi.
E nem me interessa sua rara beleza perfomática ou desconhecida,querendo ganhar alguma linha de contos,ou alguma essencialidade intérprete de testemunhos,abrigando-se como festas de interior na minha feia inspiração;nada disso,tudo é efemeridade triste,sem opções de evolução pra casa de meus dias desistentes.
Vai,pode ir acusando suas ponderadas luzes sobre meu despertar,pessoalmente eu nem ligo pra isso,eu ligo é pros desejos que estão por lá fora,mas hoje estou com preguiça de literatura e natureza,e por cá;me reflito melhor na altura da cama com meus dois travesseiros azuis macios.
Em nenhum momento,a curiosidade nunca se tornou tão ilegítima como agora,sim;a curiosidade
(identidade da mãe invenção)-pronuncia seu rosto escuro,porque de minhas frases não se haverá nenhum.
Nenhum vocábulo,ênclise,meridianos, e prosa oficial de espécimes,a ganhar sacudidelas de sentimentos e alma neste corpo.Estou fora de todas estas questões participativas,a única coisa que balança não é o berço,são meus pés, que se solidarizam com o nervosismo agressivo.

Lá fora estão os episódios descritos,mas eu me vingo sendo várias páginas desfolhadas,e alego o canto para o humanismo cauteloso,estes que escrevam por mim,aqui dentro eu conquisto apenas batalhas de sono e lençol.

Frequentemente eu visito as bancas,mas hoje acima de tudo,fico agradecido com a confortabilidade internética.

Hoje não escreverei a minha relação com o mundo,nem as descobertas científicas,ou o último perfume que me deu tanto prazer,hoje apenas estarei na glória de um descanso,entregue o corpo num retrato de lamentos,pedindo pra que o sol apague suas idéias também...

sábado, 3 de janeiro de 2009

Linguagem amorosa


"Só em linguagem amorosa agrada,a mesma coisa cem mil vezes dita..."(Mário Quintana)



Assim eu começo abrindo minha página sem tamanhas excepcionalidades,sim;porque compulsado por estas qualificações do namoro,ou do amor,nós nunca nos sentimos repetidos,pelo contrário;temos uma amabilidade sem contracapas,porque o elemento inevitável das palavras no salva disso tudo.Lembrei desta frase outro dia,tão simples e tão perfeita...O Mário Quintana da simplicidade invadiu minhas esquinas poéticas.É engraçado quando sempre perguntamos para o outro,todos os dias:-Eu já disse que te amo, hoje??-Sim,porque este 'hoje' nos remete a um novo dizer pra amanhã, e nunca é enjoativo,nunca;desembarca num quase privilégio imperativo de ser cobrado sempre.
As linguagens amorosas golpeiam o nosso coração taciturnamente,conquistando equilíbrio e alma,abrindo novas apresentações como invasão de propriedade,esmigalhando todas as janelas e deixando portas abertas para quem conquista.

Diria ainda que a linguagem amorosa,não ficaria apenas no berço da universalidade das palavras,mais iria muito mais além;um gesto pessoal e significativo,como um bom abraço de sensibilidades ou um aperto de mão explorador.Um olhar que cava pinturas na ótica,um modesto sorriso acontecido,a tranquilidade suave de um carinho abastecido no rosto.

Shakespeare sabia muito bem disso,e escreveu pra que Julieta falasse boa noite pra Romeu, até o amanhã.

Apelido amoroso é também linguagem, palpita com as mesmas proporções limpas e inteligentes.

Alguns chegam a soar ridicularmente,mas em matéria de linguagem amorosa,tudo agrada e tudo pode ser repetido cem mil vezes que nunca fica feio.

Um retrato na carteira,uma aliança,poema antigo depositado na gaveta,dedicatória em livro,batom guardado na agenda,rosa deixada no travesseiro,café pronto na mesa.Tudo,tudo e tudo são nossas preocupações de gênero,linguagens pessoais que se descobrem ensopadas na alma.
Debruçadas num único objetivo que é a linguagem amorosa ser dita cem mil vezes,sem nunca ser tediosa pelos ares.

Auto-Retrato

Ele nasceu assim,pouco importado e pouco importante,mais extremamente financiado em suas riquezas de fé.
Diga-se no filmezinho dos dias,que em materia de loteria ele era a exuberância e positividade de números.E que não existia azar,apenas a sorte pintaria no seu minuto mais azedo e triste.
Tinha preferência sempre por cafés de boteco.Pura desculpa desafeita, de conseguir copos generosos de cerveja,pelos amigos que em sua maioria duravam conversas.
Seu pai um dia quis se perder na multidão,soltou-se de sua mão perseguido por militares, quando ainda criança;e nunca mais voltou.Não entendia como funcionava o poder,mas sabia precisamente explicar as repetições de fome.
A mãe,um pouco mais tarde também fôra presa por suas contradições,no apartamento;enquanto que as autoridades com seus regulamentos políticos,destruíam tudo.Ele foi levado mais tarde pra um reformatório onde não tinha remédios,nem leituras,apenas pessoas que queriam lhe distribuir socos e abusar de seu corpo.Resolveu fugir dali com mais três,fingindo-se moribundo.
Foi morar na rua por anos e deixou a barba crescer,logo se descobriu artista;pintava alguns quadros pra sobreviver.Mais tarde conheceu a biografia de Van Gogh,através de um comprador. Ele também tinha: barba,nenhum dinheiro,e nenhuma mulher...Ficou mais feliz;era parecido com Van Gogh em muitos aspectos.
Um dia quando pintava quadros lhe pediram documentos,ele disse que não tinha e foi preso por vadiagem,pensava consigo,mas como;vadiagem?Seria até um contraste,já que trabalhava arduamente pelas tardes,não entendia o que era ser vadio.
Na prisão,não pintava,não jogava,não bebia,e novamente tentavam abusar-lhe do corpo,resolveu fugir daquele segundo inferno,aquilo não era vida.
Um dia foi chamado até a mesa do diretor da prisão,que também era um pintor amador,queria um quadro seu entre os livros jurídicos,resolveu fazê-lo.O diretor gostou tanto que o liberou,não precisava mais tentar fugir.
A sorte nunca foi prudente,também porque seu minuto mais azedo e triste nunca compareceu.Particularmente achava que ficaria rico póstumo,como Van Gogh;e nunca mais deu sinal de pensamentos,apenas gastava os seus pincéis com habilidade amadurecida...