quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Inteiro no soneto


Meu quarto é um cemitério de folhas lápide...Ao chão se recolhem estes milhares de picotadinhos brancos,que mais parecem confetes de carnaval passado.

Olho pra parede,e na altura do mapa em relevo amarelado,prevejo todos aqueles pontos pretos de cidades, cidades que enterro os meus sonhos,e que ainda hei de seguir por lá.

No espelho eu percebo um rosto órfão,a pele já foi morta em outros verões cegos e apagados.

O que me narra melhor conhecido agora,é esta lâmina que se escorrega nas paredes das maçãs,indo e vindo em regiões de pêlos,no corte duro que desenha um vermelho, pras futuras comunicações emergenciais.

O meu silêncio é um tempo diferente,e nem o relógio sabe captar minhas letras separadas,ele está ali parado,revoltado,sem montar os seus ponteiros como tarefa.Mas no entanto;respeito sua presença de dias ao meu lado.

A vida é tão engraçada com sua pré-história,quando crianças sonhamos em ser adultos,e quando adultos,nos cabe uma alvenaria de sonhos pra infância.

Nunca sabemos ser quem queremos ser,nunca acertamos as contas em dias certos pra pagar.Seria bem mais fácil eu esquecer isso tudo,embarcar sem futuro,em algum daqueles pontos pretos que sempre me esperaram como espectros isolados...Mas eu não vou,eu sou um José,e duro neste ponto de terra não opero nenhuma reclamação.

O lápis não costura nenhuma letra feia na minha infância,nenhuma.Não costura uma palavra no espelho,este que me implora qualquer tipo de roupa como imagem,a andarilha carne que viajou.

Lembro da minha professora de jardim,tão bem vestida,com um laço azul de seda no pescoço;e seus cuidados tão especiais e coloridos,em que pegava forte nossas mãozinhas,e saía a deslizar linhas redondas que logo montavam rumores de soneto.

Ou quando passava horas no egoísmo do pente, antes de ir pra escola,entre dez ou doze passadas pelos fios,fartura de madeixas que hoje me faz seca.

Nosso testamento de maturidade,nem sempre reconhece aquela beleza feita,transferindo outras salas de histórias e vírgulas,outro caminhar razoável,pra encaixar esta nossa tamanha perda.

Hoje o espelho toma o meu lápis curto, e escreve tudo errado,só pra me irritar,só pra me aborrecer completamente,porque já não me conta uma só vitória-pedaço,eu que ainda tenho tantos pontos pretos esparsos,por conhecer...

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