sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Amanda


Marcelo adentra a cozinha receoso...E paulatinamente avesso a todos os seus pensamentos frios.Uma conversa embebida em: passados,prosas niilistas nietzschianas,doses de uísque que cavalheiresco;derrama goela abaixo,fazendo com que seu humor dúbio,percorra giratório à outros sentimentos.Tateia o bolso da camisa branca,numa tentativa neutra e inútil de tentar achar seu isqueiro,que nunca irá ser encontrado.Não sabe aonde deixou o fogo,nem sabe também onde deixou o seu heroísmo traído, naquela manhã.Pensa que deve ter esquecido na casa do Raul;após uma orverdose coletiva de disco dos Beatles madrugada afora.Amanda ainda não ligara,talvez nunca mais ligue,pensa assim e aceita.Acende o cigarro de forma estratégica na boca do fogão.Dá uma baforada desconfiada e insana,deixando resquícios de fumaça subirem pelo cantos da parede.A mão trêmula tenta segurar uma garrafa d'água.Marcelo sabe o quanto a sua boca está amarga,amargo como a água que lhe estala na língua.Como o café que saboreia profundo e de repetições.Abre a janela e percebe o dimensionalismo do sol responder por detrás de três prédios conhecidos.Ele mora no quarto andar do Edifício Chicago.Os carros abaixo se entrecortam assassinos,e um engarrafamento orquestrado de vidro e ferro são mesclados à xingamentos intermináveis nos segundos para o trabalho.Amanda não vai ligar.O pensamento só opina sexo,nada mais do que isso.A última trepada fôra na sala,com seus pais dormindo,num final de festa que inspirava adrenalina,gemidos,e um prazer rápido e parasita do orgasmo.Transava de frente para o retrato de família,com a mãe abraçando os quatro garotinhos pequenos com sorriso nos lábios.
Ligou a tv e deixou alto o volume, passando o clipe de 'Cruising with Ruben & the Jets' de Frank Zappa.Abriu a geladeira mas só encontrou comida congelada,tempos também qua a casa não estava arrumada,decididamente tinha que contratar uma empregada.Devo ou não ligar??Ficava assim copioso de dúvidas.Sabia que se ligasse ela marotamente desconversaria,ou desligaria o telefone na sua cara.Ele também já vaticinado de relacionamentos,sabia que o orgulho lhe caía muito bem em questão.
Acabaria seus dois cigarros da manhã,bebericaria outra dose e desceria de bermuda brim pra comprar jornal.Lembrava apenas daquela voz, lhe amassando as orelhas numa melodia caminhante, acovardando o frágil coração.E de como guardava as mãos naqueles seios,duas laranjas maduras no espaço.Seus dentes aprisonando o concreto da pele,seus carinhos que na fronte ausente e assustada,sabia identificar todo o caminho dos dedos.Ia mais tarde encontrar-se com os amigos,matar a ferida da tristeza se protegendo por copos e papos de cinema e política.O dinheiro estava curto mas a amizade nunca deixava faltar copo vazio.Na madrugada ao voltar pra casa,sabia que expulsaria este arranjo de orgulhos no peito,e um telefonema entre tropeços da mente faria...


5 comentários:

Anônimo disse...

Que droga, dorga boa Jordan! Cada vez que venho aqui parece que me encontro literariamente, numa vida que descreveria um dia!!! Rock and cigarrets!

[ rod ] ® disse...

Olá moço.. depois de um tempo por fora.. estou de volta e vim avisar:


Venha conferir o início de tudo.

Venha sentir o gosto dos meus...

Traga também os seus.

O AveSSo dA ViDa agora se chama dogMas.


dogMas...
dos atos, fatos e mitos...

http://do-gmas.blogspot.com/

Ju disse...

nossa... terminei de ler o texto exatamente quando acabou a música!!! pareceu um filme, um clipe, um recorte de vida em trilha sonora! gosto mumito, MUITO dos teus escritos!!!
beijooooooooO

Ana Leticia disse...

E pq não ligar? é o dilema masculino, que tanto assombra as mentes e os dias femininos...
E a gente perde um dia inteiro olhando e amaldiçoando o telefone, quem sabe a cia telefônica deu problema na antena? Quem sabe ele sofreu um acidente e está impossibilitado de falar? Desculpas... Meras desculpas...
E tanto tempo se perde no lugar de reviver momentos, sensações, orgasmos... pq não? rs
Adorei seu blog, parabéns pelos escritos.

Até mais ler.

Ana Letícia
www.mineirasuai.blogspot.com

Isabeau disse...

Mera desculpas...será que estava carente da presença de Amanda que não entendeu que era amor????
Apenas sexo??? não meu caro, sexo passageiro não fica na memória, não tem gosto de quero mais...