
Um silêncio miserável e corriqueiro reina e desorienta meus olhares pela sala velha.Todos estes meus canteiros de sexta-feira não afligem e nem concebem.Surge um fulminante saudosismo encarando minha face, como de um inimigo doméstico e antigo.E eu,personagem destas tantas sintonias memoráveis,começo a espalhar uma sequência de vinis sobre a mesa,como consolo,como resquício de notas no papel.Cada um avançante ao meu ouvido,e aos gritos e votos que o coração um dia já ficou preso.Percebo que a vida nem sempre pode ser decente,e ao lado;estampado na parede branca fria das dúvidas,associo as fotos em preto e branco, numa política sensibilizada dos olhares.
Sim; ali são pessoas que conheci,com seus sorrisos aliviados e queridos,memórias polidas em abraços pétreos,com suas histórias esfomeadas,pendurando o desanuviado das idéias escandalizadas, à poucos centímetros de mim.
Hoje não sairei,não girarei a maçaneta da saída.Ficarei com o gato e o resto do jantar,e alguns cigarros que gargalham comigo por conta.A linha paralela de vidas,lembra-me umas destas vanguardas européias,uma película frágil de Fritz Lang amadurecida.Hoje calarei os meus gostos na cerveja amarga,e sei bem onde enfiar a minha cara,pois a cama mora ao lado.Nunca a tristeza se pronunciou tão bela,e tão graciosa,das atenções que o tempo não mostrou.Abro a janela e murmuro bem baixo na cadeia dos ventos descontentes.Fico monologando manchas de meus avessos às árvores que se sacodem entre prédios.E talvez minha alma,dor medonha roliça;abra estas várias portas fechadas da consciência,que eu mesmo quis ausentar,mas nunca deixei de concluir.
Na prateleira,vértebras de romances que nunca mais li...Meus diminutos dedos atravessam um rascunho rápido na adversidade,uma tensão tortuosa embebida na roldana de desafetos,porque sei que mais tarde tudo irei esquecer...Os que sentirem minha falta;vizinhos de minha ausência surgirão.Mas até aí eu já estarei bem preparado...Negociando vinis e cervejas para todos que puderem encarar o plantão da madrugada...
2 comentários:
Esse texto é pra ser lido de todos os ângulos. Juro que não me arrisquei a vir aqui comentar antes de tentar alguns destes ângulos. A fidelidade é bem maior do que a coerência. Ela não precisa de conceitos. Precisa de história, laços e talvez um cigarro. A sua fidelidade tem nomes, apelidos e um amontoado de você em frases curtas e metafóricas. E te ler é sempre uma coisa sublime. Sempre!
Beijos paulistas.
E aí Jordan,
é o melhor jeito de tratar a melancólica saudade juntando-se a elas pelos resquícios materiais simbólicos. É um tempo e espaço totalmente individual, ou melhor, subjetivo. Completamo-nos por nós mesmos com o resultado do belo em plena atmosfera triste, ou que tende à tristeza.
Muito obrigado por seu comentário no Canis, e agradeço ainda mais as dicas da trilha sonora aqui, hehehe
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