terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Domingo fatalista


Foto:Rodolpho Oliva
http://olhares.aeiou.pt/utilizadores/detalhes.php?id=103842

Inconscientemente aceitava toda aquela ordem de trilhos magros e antigos; serpente férrea de estradas que levava pra Santa Teresa.Era um passeio mais do que de favores,naquele gancho de Éden que poderia casar.
Tinha a frivolidade costumeira de pegar carona sempre em pé,portando bermuda jeans e chinelos,percebendo por debaixo dos pés;as pessoas tocando pernas pelos Arcos da Lapa.E toda aquela terra truncada e bruta sob as pedras,correrem rápidas.A serenidade fina de chuva se recolhia empertigada; ante os matos e prédios que fazia fila nas visões.Zéfiros repartidos agarravam-se aos cabelos,e guinchos desafinantes e finos nas curvas, cesciam odiosos nos ouvidos.A ferrugem chamativa do Bondinho,era tão irmã do seu nostálgico;que não via diferença alguma entre uma e outra.Os bancos duros de madeira cerrados,a familiaridade adquirida de casarões e bares,o discurso de obras influentes montadas na sombras das ruas inquietantes,tudo era convite e passagem pra seus cantos vagos.Descia na maioria das vezes pelo largo dos Guimarães aos domingos,murmurando frases preguiçosas e encontrando o bar do Mineiro mais à frente.Beberia algumas por lá pra espalhar tristezas e após,assistiria uma sessão no Cine Santa,sua igreja íntima de bairro...

Ali trocaria opiniões severas,desforrando o vozerio acanhado e faminto pelos paralelepípedos e sobrados altos,entre cadeiras de terceiros, e feijoadas regadas na tarde.Entre cachaças e batidas,felicidade de idosos e novos.Por fim,as curvas magríssimas manchariam à sua noite na volta,varreduras de saudade romanceariam seu peito de costumes,fortunas sociais lhe acomodaria as dores,poetas e pratos esparsos; como vagos...Remorsos vindouros que informarão mais tarde no soletrar vizinho de sua língua...O nome de seu lugar mais amado e guardado...

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu nunca andei nese bonde, e poucas vezes o vi quando fui à Santa Teresa. Ainda espero esta oportunidade só para escrever algo, porque nos dá muitos motivos e ainda mais agora, com seu texto, que será outra referência!