segunda-feira, 10 de março de 2008

Girassóis


[Van Gogh pintando girassóis,tela de Paul Gauguin de 1888]
Nesta madrugada libertária de segunda-feira,monossilabicamente distorço letras pausadas aos céus;uma fina camada de água se apresenta lá fora, fortíssima-arrebentando danças estranhas nas armações asfálticas da rua.O reflexo curioso deixado no piche;é comparável a de um espelho doméstico de casa,onde metal e vidro passantes, brigando espaços,formulam terríveis desenhos esguios ao fundo.

Os zéfiros me travam uma luta queixosa de frio e impaciência,com seus socos invisíveis me padecendo no rosto já baixo,e as gotículas de água passeiam no vidro arranhado,apanhando na tela da visão uma imagem abstrata, quase em completo.Nos pontos iluminados dos quartos, nos prédios,apertam-se categorias de pessoas com seus cotidianos inexplicáveis.São uníssonas carnes de rugas e mechas anciãs,são mulheres endiabradas com suas curvas anatômicas,são jovens sem palavras fluidificando rotinas e barbas grandes.
É aquele síndico de autoridades revoltantes,buscando em diálogos rigorosos,a perfeita condição do bem-estar social dos condôminos.É o bêbedo que canta na entrada da portaria,morrendo notas para o elevador.Aqui eu me guardo numa cadeira rodeada de desenhos de girassóis,que mais lembra-me (doze girassóis na jarra)-de Van Gogh,primeiro de uma série de produções espetaculares que desempenhou ao chegar em Arles.Aqui chegando em Curitiba não dimensionei nada disso,me falta tantas inspirações...Da altura do quarto andar,devoro seguidamente: cafés,pacote de biscoitos, Heinekens amassadas,versos incompletos e um maço de Marlboro azul que vai morrendo bitucas, num cinzeiro branco.Percebo que esta mistura não vai me cair nada bem.
Falando em Van Gogh,lembro de 'Sede de viver' de Irving Stone, que me olha da estante pequena,cobrando-me maiores concentrações exercitáveis para as folhas,o romance histórico lido sem compromissos por meses, me reprime com certa ignorância o esquecimento,e tem raiva.Coté de veau petit isto nunca esqueci,o prato predileto de Vincent.E nem da guerra fria entre ele e Gauguin.Ainda digo que Vincent não perdeu a orelha pela sua loucura,pelo contrário;apóio a tese de que Van Gogh sofria sim de epilepsia,e portanto aumentaria sua chances de ter tanstorno bipolar questionável.Nas cartas enviadas ao irmão Theo ele traça desenvolvimentos da doença..."As alucinações insuportáveis desapareceram,estando agora reduzidas a um pesadelo simples,eu penso em consequência do uso de brometo de potássio que venho usando"brometo de potássio, foi o primeiro medicamento usado no tratamento de crises epilépticas.Depois veio o retratamento de Dr.Gachet, feitos em dois quadros pelo mestre, portando ramos da planta dedaleira.No século XVIII era muito utilizada para o tratamento da epilepsia,mas não há registros de que Van Gogh a utilizava.Alem disso, suas crises podem ter origem de várias substâncias utilizadas para enriquecimento de idéias:o álcool,o absinto,cheiro de tintas e terebentina ingerida.
O costume de Van Gogh comer suas pinturas,resultância consequencial do vício com terpenos,presente no: absinto,cânfora e terebentina.

A tudo isso associado,formulou fatores ao seu estado psicótico dúbio;criando mania aguda e alucinações visuais e auditivas.
Os pesquisadores concluíram que sintomas bipolares ocorrem em 12% de pacientes comunitários portadores de epilepsia, taxa superior à encontrada em outras doenças crônicas.
(
Fonte:Prevalence of bipolar symptoms in epilepsy vs other chronic health disorders - Neurology 2005;65:535-540.American Academy of Neurology Prevalence of bipolar symptoms in epilepsy vs other chronic health disorders Alan B. Ettinger, MD, Michael L. Reed, PhD, Joseph F. Goldberg, MD and Robert M.A. Hirschfeld, MD )-Mas creio que a entrega da orelha à prostituta,não foi nem epilepsia,muito menos transtorno bipolar,apenas ciúmes,apenas ciúmes..."E quem um dia irá dizer,que existe razão,nas coisas feitas pelo coração...E quem irá dizer..."O resto é tudo teoria da conspiração(risos).A noite se comporta mais calma e de expectativas agora,névoas serpentinas abraçam becos simplórios...Eu fico observante nos girassóis,que agoram me giram...

Nenhum comentário: