quarta-feira, 12 de março de 2008

Bem-casados

"É hora de dizer claramente como são as coisas:
você abre suas portas suas pernas seus braços sua boca seu corpo
você as escancara
eu embarco em você
eu me engajo me prendo me agarro navego em você
plano em um jogo de arriscado equilíbrio
atiro-me em seus abismos"

[Do Livro:Estranhas experiências,de Claudio Willer]


E foi chegando-me assim, com esta tua boca de tamanhas tensões amorosas e de confidências experimentais, rasgando as palavras sacanas ao pé do meu ouvido,assim tão rápida e sem promessas aparentes,com as vestimentas molhadas e tão perdida e perturbada implorando o egoísmo de meu sexo,que eu pude acordar minhas fontes e discussões e quero sim arrancar-lhe as danças prolongadas e gozos,estender-me a ti no repouso de mais tarde.
Tão desatinada e que vai se saracoteando como uma enguia brincante,abrindo minha braguilha e tocando o meu membro.
E dizendo-me que nunca seja assim só por acaso, fala isso inquietamente após fechar a porta e empurrar-me pro quarto com a voz espantada e de angústias.
E que naquele apartamento se renunciaria tudo e qualquer coisa que o mundo pudesse interpelar.Ela ia puxando-me a gola azul italiana e me enfiando a língua habitual na orelha.Mordendo a cartilagem morna e frágil e rompendo minhas imaginações e decência morta. Me abrigando o disfarce mais bonito, as vertigens e os ecos tortos se descrevendo em novas raízes, ganhando espaço e disposições pelas janelas e sala ampla.Você era tão sábia e linda, sutilmente me invocando o sexo famélico entre as paredes cinzas.E neste cubículo incursionante toda ideia de pudor era ligeiramente esquecida.Nós éramos dois bichos insanos e tiranos,passáveis de palavras e fartos no erotismo convulso que nos dominava.
O respeito naquela hora e momento era uma desconhecida forma. um sacrilégio impertinente em que os corpos nunca iriam se deixar permitir.A sacanagem reinava em nossas carnes,e o tesão era tanto e atravessava nossas melhores impressões e que o inesperado era assim mesmo,vinha sem créditos e sobressaindo e surpreendendo,um esforço que se engolia e se percebia sensível ora num e noutro.
Teus marfíneos detalhadíssimos abrigavam-se nos meus ombros cansados,no toráx solto e desnudo, nos resmungos submissos da noite, neste costumeiro queixo barbudo e desavisado.
Estava lá tua arcada dentária,mostrando seus entreguismos tão cruéis e desperadores nos dentes enormes escolhendo fome.
E eu semeando os prazeres residenciais na ostentação de teus seios,no que calmamente chupava e sem a menor concentração dos dedos perenes,onde a geografia de teu corpo era rebatida pela minha saliva maior e tínhamos tanta pressa de boca e tanta morada de perfumes afluindo dos poros,e ia lavando-me aasim os lábios secos,percorrendo: mamilos,braços,barriga,atingindo o sal que obriga o exercício de posições, e que tenha esta certeza de permanecermos em delírio.
Tua língua enterrando-se lá no gosto das minhas virilhas aflitas,suadas,multiplicando-se em diárias fantasias impulsivas.
No espaço das costas soube corporificar-me a ponta das unhas sem mencionar lugares, quatro linhas certeiras e retílineas de sangue e que eu já gemi mudo e no encontro da bocas já não gemia uma fina dor,e você ia se direcionando e levantando meu rosto e pedindo as mais sinceras desculpas, com beijinhos aqui e ali,misturado ao gosto de ferro que escorria.
Os olhos bem saltados e morenos que me dardejavam,cobertos por uma fina sombra preta ganhando sobrancelhas,os olhos perseguind esta minha alma cansada,este meu coração sem certezas e a minha glande sendo sorvida carinhosamente sem que houvesse uma pausa de olhar.
Um labirinto de fogo,de boceta e peitos encaminhados o qual eu não poderia resistir.A imagem mais bonita que os lábios paulatinamente podiam avançar.
Os dedos eram testados inquisitivamente,ganhando espaço na elasticidade de teu músculo vaginal.E ela entrelaçava suas coxas ariscas e fortes no meu pescoço,como um for-in-hand bem aplicado.
E se entregou à mim e sem eventos e eu ali mantendo o pau duro e morrendo forças,de somar uma esperança mínima da resistência, segurando o seu quadril bem largo numa visão mais que privilegiada.Seu rabinho durinho e nacarado o qual apertava com força. Lua-metade que eu enamorava loucamente.
E no quarto não existiria e nem nunca iria haver ensaios de burburinhos,e ela parecia compreender-me tolerável em tudo e muito bem.Pois soltava seus gritos,seus galopes descontrolados,povaréu de pretensões e crises invadindo a cama.
E deixou esporrar-me por fim na sua face com maquiagem barata,quando meus pulmões já não emprestavam mais forças,quando já era consumado de todo êxtase e a natureza enfim agradeceu.

3 comentários:

Tati disse...

Um título bem ingênuo para um texto rodriguiano... Só você mesmo!!!!!

(preciso de um final de semana para poder ler seus textos... )

Beijos, meu querido!!!!

Jordan Duailibe disse...

:)Verdade,você tem toda razão Tati;somente uma cabeça como a minha pra criar essas coisas loucas da vida.E sim,também preciso que você me leia(risos)necessito disso,sem isso não há porquê de eu escrever,inspirar-me pra algo,traçar qualquer coisa que sai da mente.E estou me vivenciando numa série de textos do gênero mesmo.Bukowsky,Ferreira Gullar com seu (poema sujo),Drummond com (Amor Natural),Henry Miller...Falando no Sobrenatural de Almeida,outro dia assisti "os sete gatinhos" não tem como não vê-lo,todas às vezes assisto...E um pouco dos textos que esto lendo:"Nada descreve o nosso deslumbrado horror. Eis o que víamos: — 30 mil sujeitos. O Raul Brandão interrogou um deles: — “Tudo aqui é intelectual?”. Resposta enfática: — “Tudo intelectual”. Voltou o Raul Brandão: — “Nelson, são todos intelectuais”. Ali, numa estimativa muito por baixo, poderíamos imaginar a presença de uns 10 mil romancistas, de 6 mil poetas, de 5 mil ensaístas etc. etc.

Uma literatura tão numerosa deu-me a vaidade de ser brasileiro. Mas nos dias que se seguiram, comecei a procurar nos jornais, revistas, livrarias um sinal correspondente a tamanha abundância numérica. Percorri, livraria por livraria, perguntando: — “Tem saído muito romance brasileiro, muita poesia brasileira, muito ensaio brasileiro?”. O balconista dizia-me com seu torpe realismo: — “Não tem saído nada”. Recuei como um agredido: — “Mas não é possível. Temos 30 mil escritores e eles não fazem nada”. Realmente, não faziam nada. A nossa literatura não escreve..."

Ju disse...

deliciosamente erótico e sarcástica tua escrita. tesudamente literária. adorei, na mesma hora lembrei de Bukowsky,Drummond, Dalton Trevisan, Nelson Rodrigues e Rubem Fonseca! bom demais!
beijos