sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Escravo urbano

Era quase sempre assim;despedia-se de sua casa às atenções finas, a insônia era um terrível preço que pagava pelas manhãs.Parecia um gato atento pulando pra dentro da calça, enquanto que deixava a panela no fogo pro café.O desgraçado café que era o santo graal,cura de sustentação para o dia que se seguia.Logo vinha um gole apreensivo,alguns burburinhos que tinha que ajeitar a casa e sumia.Corria sem histórias;pelos tijolos gastos da construção que desviava,pela provável e reiterável multidão que passava.E 'Chegue mais cedo!''Não aguento mais desculpas'.Patrão não entende das leis de Morfeu.
Patrão não entende o código do silêncio,amarração de sonhos,travesseiro e colchão pra zelo.Discussão nas madrugadas,de portas fechadas,porque o maldito sono não vem e nunca virá ao acaso.
O senso agora é crítico.Bate o cartão.Atropela a secretária de unhas vermelhas.Abandona a pasta desbotada à um canto,e se firma na mesa.Suor inválido caindo da testa.Garranchos distribuídos em notas conformadas num papel azul.A garganta bastante encaroçada,alergia de navalha na hora de escanhoar-se.Tinha impressão que aquilo tudo seria uma eternidade.Era contínuo da empresa de alma antiga.E saía cuidando de paralelepípedos,calçadas esburacadas,ruas sem nomes mais com números,ou ruas com nomes mais sem números,mas a burocracia deveria ser entregue,deveria chegar,notas carimbadas,cheques pagos no banco,dever de retorno de dinheiro à tesouraria.Percebia que nos valores pagos por ele;a quantia somada do comércio era explícita.E um costume de queixumes nulos se percorria por sua mente,porque tanto dinheiro entrando;e ele recebendo aquela pequena soma vagabunda.Havia lugares em que nem havia necessidade de estirar as pernas.Mas lá estava pronto,prático,suado e combativo,o dinheiro do aluguel o obrigava.E nem assim negociava o seu descanso,tinha que procurar outros bicos pra sustentar a vida.Queria reorganizar a vida,tanto ferida que tragou para seu pátio de mundo.Queria viver de viagens,não ter que pagar passagem,acertar na loteria,ser político pra chamar a atenção.Mas era contínuo,era o ser ilusão,apagado senso de humor que muito já não vive.E o escravo acordava sempre estranho,indiferente ser na repartição.Pegar papéis e protocolar,enviar envelopes sem reparar,pegar cópias ou imprimir,avisar ao chefe que vai descansar...

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