sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Retratos na parede

[Post antigo do blog: http://tenhotijolosmassemmuros.spaces.live.com/]
Ja está cansado de pedir teu último gosto minúsculo de paz.Já está cansado de explicar pra si mesmo,que os caminhos são muitos e pontiagudos;mas não sabe a verdadeira vereda que os pés levam.De tuas gargalhadas antigas;saboreia todas, sobre os mourões equilibrados do sítio verde.Em ti, está preso o amor,o suor e o incenso da vida que se perdeu.Abraça tua família por retratos espalhados nos corredores,abraços em preto e branco, abraços de recordações.Veste madrugadas itinerantes, com charutos certos para o estado de espírito. Não sabe a última vez que amou ou desejou alguém. Não sabe a última vez que perdeu a timidez dos beijos,ou quando desafiou a emoção do coração mais fortemente. Os fantasmas de teus retratos parecem lhe saudar com fervor quando passa.Tua sexta-feira de cachaças,teu sábado com livres passeios em campos de flores,teu domingo esmorecido numa rede sossegada.Em ti cresce um gosto de lágrimas doentias,que não acaba nunca, que não sara nunca.Uma ferida privilegiada e arrogante que se vai por telhados e municípios vagos.Os teus desprestígios se retém quando toma vinho,e aí quer percorrer luas e importância de conselhos de amigos.Quis negociar com o Diabo,de tanto que se arruinou...quis pagar qualquer coisa para se ver livre de preocupações.Tens frio,tens medo,tens dor.O teu obscuro enigma nunca será revelado,em vão percorrerás respostas,certas lembranças doídas,despedidas desagradáveis que se pinta nos céus...Mas o que encontrará é apenas uma avalanche de amnésias acumuladas e auroras reumáticas.Estás seco,não se mexe,nem teus olhos cravam-se em horizontes soltos. Quer gritar,mas para quê?De teus poemas aborrecidos é que você enxuga o peito.E teus parentes lhe observam apenas das paredes,sistemáticos.Com aquela característica confidencial, de conhecer a tudo isso serenamente,e respeitam...

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