segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Pendências


Não,não sei se você vai querer ficar e depois atacar de megalômano e baixar os olhos enquanto mata mais uma vez a garganta com vodka,e vai deixar-me ajeitar os cabelos com a escova,e jogar Robert Schumann bem alto e bradar pelos quartos de que não precisa de analista e sentar na cadeira queimando seu Jose Piedras confirmando assim a sua impaciência.Eu já não sou mais aquela mesma menininha que você conheceu,sabe?Que ficava par oportunité de tudo que você controlava e aderia devagarinho,e que nunca deixei de odiar esta tua calça larga que teima em usar sempre nos domingos.Tenho alguns livros,um caderno de notas e um fichário rosa, pra mim isto é mais do que necessário pra passar minhas tardes.Porque sei que vendeu a televisão pro vizinho dizendo que aos poucos se livraria de todas nossas coisas.E logo vai chegando esta madrugada que tanto espero,rompendo claramente sua projeção pelo vidro do quarto e eu querendo esvoaçar loucamente estes meus cabelos negros pela praia vermelha,e mais tarde um pouco quem saiba;molhar os pés atabalhoados nas águas gélidas.Você ainda não percebeu nada meu querido,mas tem atravessado uma avenida de erros e medos na tua ridícula máscara.Eu não tenho mais tempo pra refletir sobre isso e nem quero, nem com estes teus cabelos brancos arrepiadinhos querendo um cafuné precipitado.Ah,mas porque você deixou-me assim neste estado querendo mais cigarros,de perder-me em qualquer bloco de rua e não me siga nas minhas aventuras.Ainda vai ficar com as magras mãos de veias saltadas azuis,tamborilando sobre a mesa da sala tentando entender o meu grito,ou porque Júpiter em câncer é assim mesmo, tem uma certa compaixão controlada mas que não dura tanto.Que eu nunca mais aceitarei esta mise en scène diária tua.Você rasgou meu único diário conhecido tentando acordar alguma atenção de ciúmes,e com ele todas as lembranças metálicas que preservei,talvez nos encontremos no elevador pantográfico,você tão inseguro e eu com meu mais novo perfume.Vai querer ficar por trás da janela tão inválido,alcançar alguma nuvem numa manipulação de despedida tortuosa.Porque eu estou sem meus avisos e eu faço os meus dias e você não observa a sua barba por séculos.Os meus saltos me empurram pra beleza e fico horas me olhando no espelho,que eu entendo bem da haute couture e já comprei verduras e fiz uma salada com bastante azeite e limão,e sei que vai descer novamente e procurar o Doca e pedir uma porção de:arroz,feijão,alguma carne e legumes, linguiça calabresa,couve,batatas e farofa,vai comprar o jornal esportivo e assistir o jogo no telão.Vai pedir duas doses de xiboquinha e rir sozinho batendo forte na mesa do balcão,e eu serei de outros enquanto não se vende este apartamento.Fique com sua prisão esboçada na carne e suor,no seu tabaco que peregrina cortinas aflitantes,porque eu compreendo muito bem estes meus úmidos olhos que vagam entre os orgasmos,no meu dizer acordada às três da madrugada revelando estranhas confissões e depois vir o alimento do sono.De acordar e abrir a geladeira beber uma água gelada e comer alguns frios que estão na tábua,escrever uma nota na porta e pegar um táxi,de aprender que a desilusão agora tem cheiro velho e a lascívia me dá outros contos pro caderno,e eu não estou mais insegura,e eu não estou mais insegura,jamais meu bem...

5 comentários:

Thiago Quintella de Mattos disse...

Uma chamada poética! Excelente reflexão Jordan! Mandou muito!

Jordan Duailibe disse...

Gosto por vezes de buscar esta atenção feminina também,Thiagão e sim;tem uma chamada poética forte em cada dizer da personagem,rs

Luz Natural disse...

Magnífico...

Tati disse...

Às vezes, quando te leio, é como se estivesse diante de uma banca de jornal, no espaço dos livros "clássicos" disponíveis para quem bem entender... é isso, acho que faz tempo que eu queria dizer exatamente isso: você é como os grandes clássicos escondidos em uma capa underground. Você escreve grande e finge ser pequeno. Cabe em qualquer estante, mas é para poucos!!!

Alice ainda mora aqui disse...

Nunca te li, sempre gostei!