segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Prato à minuta

Em certo momento deixei o carro cinza ali; bem perto do meio-fio no centro da cidade, e dividida por vários postes carcomidos e mal iluminados. O motor ainda ficaria ligado até o meu retorno,e eu teria que ser bem rápido,saltar como um gato e entregar o bilhete na portaria com grande fachada azul.Era um dia destes que chovia fortíssimo e logo mais tarde eu ficaria totalmente encharcado e emburrado com os contratempos dos pingos, o chapéu se perderia pros ventos estranhando a ideia de ser independente,desviando-se de prédios corpulentos e janelas degradês.

Na correria atropelava panfleteiros com seus videntes charlatões,mendigos pedintes com grande clemência condenatória,senhoras com seus redingotes bem vistos,cartazes e cartazes de políticos metidos em seus ternos italianos,transeuntes protegidos sobre as marquises largas,restaurantes com seus caríssimos clientes cheirando a sonetos.

Não tinha ideia do que viria depois dali,depois que o cheiro abafado da celulose do envelope saísse de minhas mãos e ganhasse outra,só saberia que uma lembrança ficaria aposentada na estante da sala e mais tarde pediria um prato à minuta...

4 comentários:

Thiago Quintella de Mattos disse...

Que ao chover nos molhamos, principalmente se saímos às águas, é compreensível. Entretanto, não assimili ainda você conseguir estacionar ali no Centro.

Thiago Quintella de Mattos disse...

Tá começando a arrebentar...

Gildázio Agra disse...

me lembrou um amigo que tem aversão ao centro da cidade. kkkkk. Belo conto.

Luz Natural disse...

Carro cinza, chuva, mal humor.... ah deixe-se levar... a chuva cai em forma de bençãos, recebê-la é uma dádiva...