segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Capitão


(Homenagem a Pedro Bezukhov ou o alter ego de Leon Tolstoi)

Relanceava os olhos sem qualquer tipo de animação para as águas, será que ali existiria algum tipo de código ou quem saiba uma possível atenção;para reinar sobre suas severas fraquezas?Às vistas se perdiam para longe,agora mais inclinadas e alcançando as grossas encostas verdes que interrogavam por temporais.
O mar lá embaixo assegurava sua tormenta,exitando repartir seu bigode espumoso sem nenhuma vaidade,como que esperando um desprezo pelo silêncio tardo, furtando-se elegante pelas rochas limosas dos morros.Descia por uma plataforma íngreme e com
degraus pequenos, e a cada luta de seus passos, carregava certa dor conformista e leve jurando reinar no peito do pé.
Os sapatos polidos e gastos, abraçavam a lama pastosa e a atmosfera magríssima que o chão revelava sobre os espetos jardim.Apalpou o pequeno bolso do paletó dianteiro,retirou um punch robusto,e discretamente sorveu o tabaco seco entre cusparasdas.
O que ele encararia mais à frente lhe golpearia o sorriso amarelo;era a fina magreza da dama que se dividia por entre duas árvores outonais,e que lhe podia acalentar qualquer coisa de dizeres, poderia resolver suas cidades,seus diversos mares,publicar hábitos diversos na floração de pele. Pausadamente e seco por entre os dentes conversou seu universo,era um pequeno rosto estampado de mundo que surgia,no que mais lhe chamava atenção naquela noite temporã.
Recebia o apelido de capitão,pelo porte airoso,fios grisalhos e a graça generosa e irônica de relatar fatos,um velho lobo do mar crescido em histórias e medalhas.
Fosse outra aquela várzea bem mais batida,talvez o baile pastoril saltasse com mais vigor e deslumbre,casais se fariam sem explicações e nuanças de corpos ganhariam mais passagens por entre pernas.Mais o que se via ali era somente um encontro de taças e permissão de estrelas que bruxuleavam nos canteiros floridos,nas estradas de ferro esquecidas pela mata que crescia sem parar.
Sentia a necessidade de arriscar a jogada,cruzar os cacauzeiros velhos e lhe apanhar a mão cumprindo o desejo de macho,de possuí-la a qualquer custo.
Capitão já estava decidido,venderia sua alegria pela menina que surgia no negrume do mar.E o temporal então pôde convencer a grande seca, e as gotas comiam toda a terra dura e baldia, desenhando pequenos rios e dando encerramento das festividades.Coquetéis e taças de vinho se desprendiam das mãos dos mais velhos,corridas tímidas procuravam abrigos entre árvores frondosas.
O capitão sabia da pequena menina e embora chovesse forte,parecia não dar a mínima pra nada,correria naquela mesma dimensão de perfumes,uma fuga estranha que lhe solucionaria as pernas cansadas,os pensamentos cansados,e a voz roubada pelo ataque violento da tosse.
'Espere,espere' bradava pelo fôlego restante,as passadas iam se tornando menores até quase sumir por total!
Tirou o casaco e ela entendeu, ou mesmo que não compreendesse saberia o valor do frio!Não exigiu comentários ou explicações,mas guarneceu bem à companhia.
Capitão já estava seguro,podia arder-se nas enfatuadas conversas que receberia seu título.

3 comentários:

Thiago Quintella de Mattos disse...

"Capitão já estava decidido,venderia sua alegria pela menina que surgia no negrume do mar." Lindo e intenso texto Jordan!

Bruno Baesso disse...

Jordan,
Você continua escrevendo bem meu amigo.
Espero uma visita sua e dos seus leitores no meu blog http://visaodeumburrachosolitario.blogspot.com/
Em breve o site Los Burrachos estará no ar com novidades!!!
Abrax. Inté.

Tati disse...

Sou sempre cheia de aplausos para você. É tanta intensidade entre tirar o casaco e o depois, que te ler sempre é uma conjunção de boas referências.