terça-feira, 17 de agosto de 2010

Por acaso é outro dia


A primeira vez que a vi assim, deitada nua,comprando outras páginas de sonhos por detrás da pintura do barco vermelho,com meu primeiro fotografar de olhos correndo por sua pele inteira;fez-me pensar amplo e amiúde na plataforma da paz. No que seria aquela fonte duradoura trazendo-me matérias tão prazenteiras,novas.
E que meus apegos e acontecimentos partiriam dali e amanheceriam diferente comigo, e me provocaria mais tarde esta insistência particular de cultuar a origem dos sentidos.Talvez porque nestas maioridades de gratidões que tua boca acusou,os horários sempre souberam cumprimentar-me bem.E o desviamento dos maquinários soltos,ponteiros loucos,cessariam na sociedade primitiva que nos perseguiu.Pensar mais tarde que ela acordará e se levantará séria, mastigando seus processos pacíficos de explicar como será seu dia.

De aplicar perfume nos pulsos,na nuca,maquiar-se em ângulos perfeitos e fazendo-se de desentendida,pra mais tarde calçar sua bota sintética envernizada e correr atrás de um táxi num dia nublado e plastificado como este, porque está aí atrasada e que mais tarde me ligará contando que sairá cedo pra pegarmos um cinema no centro.

Dizer que possui milhares de números no celular mais só liga diariamente pra quatro pessoas.

Que já não suporta mais o esquecimento do jornaleiro em entregar-lhe o jornal e que receita de avó já não cura mais tuas ressacas,que esqueceu novamente de dar comida pro gato e desmarcar o horário de eventos,riscar inimigos da agenda,completar o resto da coleção de classic movies e desculpar-se com os professores da pós pela sua ausência.

No sábado tem jogo do Vasco que assistirá com as amigas e olha que anel mais lindo que eu comprei,que vai combinar com a saia branca que vestirei na feijoada de Pedro, que toca sempre samba de raiz no jardim de inverno.

Tem dias que o sono irá mais longe,deixando estas madeixas substanciais se derramarem como folhagens nos travesseiros,e vai encolher-se toda porque o frio não conforta!

Vai falar dormindo pra não perder a linha da conversa enquanto Tim Maia joga o seu Soul nos ouvidos.

Virá outros dias sem falar muito, deixando decifrar alguma revelação finita pelos umedecidos lábios e que não faltou com as compras de quarta-feira.Sua demanda de trabalhos não a deixou comer nada o dia inteiro e 'ai amor,que fome!'
Às três da tarde visitou a mãe no hospital e amanhã terá alta sem falta.Olha que preço de vinho maravilhoso!E na outra mão vários queijos pra degustarmos!Amanhã é dia de folga temos tanto pra passear e vai me jogar este olhar de fêmea louca,loba tocante que desenhará minhas costas,trará copos de cristal pra brindar,brincará com sua atração pelos cantos da casa,vivenciará travessuras sem lugar,derrubará as cadeiras de mogno que herdei de meu bisavô,será inquieta na cama até abrigar-me no teu ventre mais aceito,e deixar exercitar nossa essência de poros sem trens passantes,porque o semáforo sempre estará no verde.

Há de falar-me com ternura suas próximas aventuras,que não conseguiu terminar o trabalho ainda guardado no word,que minha barba está crescendo e machuca.O salto desgastado precisando de conserto e não é assim que dá um nó windsor duplo não,é deste jeito e vai um pra cá e depois passar por cima e ajeitar,viu?!Prontinho!

Amanhã ela chegará novamente atrasada no trabalho eu sei,e sem cigarros!


Um comentário:

Thiago Quintella de Mattos disse...

Das combinações que gosto em seus textos, Jordan: um lirismo, que vai se transformando em coisas assim, da vida mesmo, acaando cigarro, pesando no que se esqueceu em casa, ou no que deveria fazer na rua, por aí!