quinta-feira, 22 de julho de 2010

Partida

"...V
Mas que tens?Não me conheces?De mim afastas teu rosto?Pois tanto pôde o desgosto /Transformar o rosto meu?Sei a aflição quanto pode/Sei quanto ela desfigura/E eu não vivi na ventura...Olha-me bem que sou eu!
VI
Nenhuma voz me diriges!Julgas-te acaso ofendida?Deste-me amor,e a vida/ Que me darias-bem sei;Mas lembrem-te aqueles feros/Corações, que se meteram/Entre nós;e se venceram/Mal sabes quanto lutei!... "(Ainda uma vez-Adeus) - Gonçalves Dias
Eu me via um velho andarilho descalço... Inquilino das areias e pedras que não dão descansos ao peito do pé. Entrevistando meus grandes papeis e rabiscos de folhas, puramente sem roupas sossegando qualquer mau olhado;apostando alternado a linha de profundidades do corpo, e que em nada pude ser atendido pelas lágrimas.
E ela já ia partindo toda naturalmente e sem lugares,ou qualquer lugar de suas certezas convictas!E o que seriam minhas perguntas e sinais?Sem histerias?Manhãs enfadonhas?Encravando todos estes meus senhores erros de dentro,que foram crescendo em anos e nada foi distribuído!Mas ela foi embora e hoje a lembrança é uma penitenciária futurista!E o que dizer deste álbum branco quase inválido de mim,o que dizer...Porque de memória nada me rendeu nenhum destaque,e quando assim me vi,eu já estava todo corrompido no primeiro risco d'água que a barba sucumbiu.Ela se foi e não me disse nada de ais!E eu...O que foi estar assim,envolvido?Eu que nem perpetuei suas mãos,e nem findei qualquer gracejo no último gesto de adeus...
Tomou da alça com os dedos úmidos,às nove da manhã, seguindo para o navio,e eu rasguei meu chapéu sobre o cais,xinguei os mundos,a minha pequena menina se ia e ela tinha seus motivos do fim.
Não quis ler sua última carta banhada em perfume e borrada,com letras redondas sinalizando toda a história.Passei uma tarde entregue no porto,cantando fados tristíssimos,secando a bolsa de moedas...

2 comentários:

Tati disse...

Sabe, somos um amontoado de motivos. Motivos inventados. Cheios de desculpas. Esfarrapados. Motivos de verdade. Somos uma compilação de motivos que nos distrai. Que nos JUSTIFICA. É isso: os motivos são os fins, que acreditamos que justificam os meios.

Eu não sei quantos motivos eu sou. Só sei que são muitos.

Thiago Quintella de Mattos disse...

Do cata-fados, vou à parte dois continuação!