quinta-feira, 2 de julho de 2009

Esqueletos do armário

Não...Ele não tinha nenhum endereço assistido;e se tinha cama??A própria pele se encarregava de ser tapete no granito...Seu habitável nunca coletivizava ou compunha semanas entrantes,a não ser talvez o patético corpo,bamboleando generoso como peixe n'água verde.Um esqueleto de casa perambulante, vencido por passos e ruas estranhas...Contraindo frias paredes na contabilidade de decepções.
Furtava caixas de correio residenciais,saboreando intimidades como se fossem suas,profunda corrente de tolerâncias...Em alguns papéis respeitava lágrimas,discorria teatros agitados,cobrava beijos babosos,luxúrias práticas,receitas de cozinha mediterrânea.Noutros se via como ave de rapina exasperante, se defendendo por: pedidos,justificações premeditadas,anúncios suicidas,amizade vencida,melancolia imaginada.
Convidava tudo para morar:a fumaça dos carros nas narinas,a baldeação de carros velhos pelos olhos, a saliva morta e rebitada da cachaça,os pés em garra atropelando vidros,mãos pedintes reconhecendo cédulas e níqueis,vozes asquerosas lhe repudiando nos ouvidos...
Não questionava nada sobre artes,filosofia ou física,mas adotava seu disfarçado talento para a imaginação mais vadia.
Era daqueles pacotes escondidos na estante ou trevo de quatro folhas escondido por plantas,nunca foi letrado mas era senhor de frases formidáveis.Estourava presumidamente por alguns minutos, para logo voltar maravilhoso por horas.
Vivia por cidades,por bondes,sua ala de Bronx...Profissão?Nome?Pra quê?!Seu escritório era o aterro sem fim,e seu nome que ficasse para os homens...Ele era todo nomes...
O que pretendia ainda bastar??Apenas ser identificação de casa perambulante,dormindo manhãs em cada quartinho rompante; que logo corresponderia melhor chamá-lo de lar...

Um comentário:

Thiago Quintella disse...

Há vidas assim por aí, completas. Outras estão em nós, tentando nos completar ou libertar.