sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Último encontro


O ônibus partia, revelando um abóbora quase apagado de sol pelas paisagens sistemáticas,no comprimido da face;as lâminas solares bloqueavam toda vista severa de tréguas.

Do seu lado direito, um senhor português de camisa cinza bem aberta,comia pão com queijo,e jogava xadrez com outro rapaz.Uma senhora soberana de rugas,tentava inutilmente abrir a janela à sua frente.Tinha jeito de ter fino humor e trabalhar em gabinete.Levantou-se rapidamente de imediato e a ajudou.Lhe agradeceu com algumas expressões em francês, que não entendeu.Pensar que três horas atrás,desafiadoramente ele partia do Cantina da Lua,havia pedido um balde com cinco long necks,pretendendo um sorriso dela que não vinha nunca.Passeava os dedos de forma circular sobre as tampinhas abertas,esquecendo o tempo e aquela discussão polêmica de relações.O amor já estava tão gasto,seu livro já completava quatro meses descontinuados,e aprendia a assassinar o pandeiro com certos tamborilamentos assustados.O pior é que no meio de toda aquela neurose perturbadora,ele ainda conseguia arrancar alguns episódios alegres.Uma nouvelle vague estranha,onde a doida felicidade;era sua própria liberdade amável de apelos.Entre este andar de turbilhões de frases degradantes,e raiva magra; ele decorava todo corpo com goles comportados,e levantava a bebida até a altura do medo feminino, como agradecimento antecipatório,como pavimento de respostas de críticas.

Ele nunca quis insistir em nada,apenas queria tomar notas em um caderninho e escutar Duke Ellington pela madrugada.Nem mesmo sabia o que ainda fazia por ali,achava que esperava as suas duas últimas garrafas que ainda sobravam no gelo.Dali, seguiria os caminhos de quilômetros pra adiante,faria um documentário e se hospedaria em alguma pensão barata de interior.O vocabulário faminto aos poucos acabava,ficava apenas a expressão séria dela,meticulosa,escrita em toda sua face e frialdade de mundo.

Não queria esperar por mais nada.Carregou o balde consigo,jogou duas notas amassadas na mesa sem pressa,e seguiu pro ônibus...Primeira parada seria Gramado,e depois,quem saiba;Paris?


terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Domingo fatalista


Foto:Rodolpho Oliva
http://olhares.aeiou.pt/utilizadores/detalhes.php?id=103842

Inconscientemente aceitava toda aquela ordem de trilhos magros e antigos; serpente férrea de estradas que levava pra Santa Teresa.Era um passeio mais do que de favores,naquele gancho de Éden que poderia casar.
Tinha a frivolidade costumeira de pegar carona sempre em pé,portando bermuda jeans e chinelos,percebendo por debaixo dos pés;as pessoas tocando pernas pelos Arcos da Lapa.E toda aquela terra truncada e bruta sob as pedras,correrem rápidas.A serenidade fina de chuva se recolhia empertigada; ante os matos e prédios que fazia fila nas visões.Zéfiros repartidos agarravam-se aos cabelos,e guinchos desafinantes e finos nas curvas, cesciam odiosos nos ouvidos.A ferrugem chamativa do Bondinho,era tão irmã do seu nostálgico;que não via diferença alguma entre uma e outra.Os bancos duros de madeira cerrados,a familiaridade adquirida de casarões e bares,o discurso de obras influentes montadas na sombras das ruas inquietantes,tudo era convite e passagem pra seus cantos vagos.Descia na maioria das vezes pelo largo dos Guimarães aos domingos,murmurando frases preguiçosas e encontrando o bar do Mineiro mais à frente.Beberia algumas por lá pra espalhar tristezas e após,assistiria uma sessão no Cine Santa,sua igreja íntima de bairro...

Ali trocaria opiniões severas,desforrando o vozerio acanhado e faminto pelos paralelepípedos e sobrados altos,entre cadeiras de terceiros, e feijoadas regadas na tarde.Entre cachaças e batidas,felicidade de idosos e novos.Por fim,as curvas magríssimas manchariam à sua noite na volta,varreduras de saudade romanceariam seu peito de costumes,fortunas sociais lhe acomodaria as dores,poetas e pratos esparsos; como vagos...Remorsos vindouros que informarão mais tarde no soletrar vizinho de sua língua...O nome de seu lugar mais amado e guardado...