quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Segredo de madrugadas


Ela se espalhava sobre mim,com suas sensações apertadas de libido;louca, devassa, bandida,a invadir-me às costas sofregamente doídas do sol de Abril.
Disparava-me longamente uma saraivada de beijos vermelhos, colando na carne um carimbo visível de ternuras frágeis. Os ombros ofertados,o pescoço e face aguda adorando tudo.
Era complicado ter qualquer coisa de disciplina naquele momento,ali tudo era aéreo,inútil; sucumbido.A cabeça desarranjada no teu mundéu de olhos cortantes,refreando calmamente meu sono primitivo espriguiçado, alheio às tuas marcas e besteiras que me contava ao ouvido.Se tomando como uma vitrine poética,e os músculos rígidos ainda presos à cama, sem quase nada poder fazer.O dedo seu indicativo, levado até a boca; premeditava qualquer coisa de sensação, o próprio gosto etéreo de paz.Pedia para que eu ficasse ali pra sempre,que continuasse com meu silêncio imperativo,com meus agradecimentos provocantes. Retratos de lembranças tantas...
Que na ordem da memória do espaço,o controle do homem prático sempre se passou por mais,e eu lhe via assim; a sentimentalidade crescendo e se florescendo com o barulho da chuva lá fora.E eu devidamente fisgado pelo passado,rabiscava nas retinas a mistura e soma de erros que você nunca pediu para acontecer, uma revisitação estranha de tantas falhas inúmeras e intranquilas,tanta infantilidade cruel ou desgostosa de nós,cálices brindados num relacionamento já desacreditado,e servidos no balcão com gosto de fel. A fumaça nicotiniana se esvai ao lado da xícara de cor branca.Um café forte e doce, contrastando com meu amargo pensar recolhido,de mulheres carmíneas que amei,e que me viveram,que me aprumaram e esgotaram meus projetos lindos.Que souberam carregar em muitas vezes,as formas alimentantes do coração de amores.Penso nestas tantas...tantas...o sonho bem nebuloso...
Hoje o reinar destas matérias nunca me foram tão claras,sonhos incomodantes que me perseguem, que me guardam no porão das euforias bacantes;dificultando meu acerto de questões.O líquido preto adoçando as dores,e a cabeça pendendo sob o queixo...Outros seriam meus sonhos mas não...Uma povoação enferrujada de memórias se resgata proveitoso,e atende a progressão dos fantasmas andarilhos na gerência de governo duro...Como um ser mais perto e presente que clama atenção de horários,de embarques confusos.Que divide o meu cigarro há tempos morto nos dedos da mão direita;e o restante do café que ainda me adoça à madrugada, tão álgida de aflições...



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