quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Visões definhantes

Ele sofria feito um diabo, sendo castigado grosseiramente, na ardência do encolerizado sol que; chispava acinte contra seu rosto chupado e frágil.
Andava em passos esprimidos, como se nestes repousasse bronze.E na dimensão solitária dos acontecimentos, cantava certa música conhecida de infância.
Na memória resgatante, uma resquiciosa passagem do pai, e nos músculos dos braços pra terra, a sensação de cansaço quase lhe beirando a beijar o solo quente.
Sentia uma angústia quase profunda, experimentada nestes sobressaltos rasteiros, que a realidade da seca lhe proporcionava.
Já tivera noites em que pensara sempre em desistir de tudo, encafurnado, fumando os poucos cigarros que lhe restavam no bolso.Mas a imagem da mulher e das crianças provocava-lhe uma prodigiosa força de blocos, arrancando qualquer padecimento sem-conta que viesse a surgir.
Lívia já era menina desmoçada quando o cenário os uniu, e já carregava um fruto de outro homem.Mas Mariano não pestanejou, e com ela ainda embarrigou dois filhos.Moreno e Teobaldo.
O que Mariano queria não era muito, apenas o que deseja todo homem, um pouco de conforto.
E plantava e plantava, e esperava algo, e queria água farta, queria mandacaru para dar ao gado novo, alface, cebolas, hortaliças em multidão.
Mas a terra era teimosa, oposicionista nata de lutas,e com ela; a desavença de palavrões por parte de Mariano. Lívia levantava para saber se estava tudo bem, e trazia na mão direita um copo de leite. O tempo se passava e pronunciava nos seus pequenos olhos, o mesmo futuro que o pai ofertara.
Sabia que não poderia mais ficar ali, abstraído com seus resmungos confusos. Catou os dois meninos, arrumou de sua melhor roupa, tomou do cavalo no pátio, chorou remorsos, espelhou diálogos na porta de casa.E disse a mulher:- Vamos mulher!Que o nosso romance só está iniciando!

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